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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Divórcios

A proposta do escritor judeu Amós Oz para o Oriente Médio parece estar em voga nos atuais dias, sobretudo na Europa. Divórcios.
Quando Oz fala que a única alternativa para Israel e Palestina é o divórcio, nada amigável, tampouco satisfatório, mas necessário, o pesquisador expõe a tendência que passa a tomar conta da mentalidade européia no fim da primeira década do século XXI.
Recentemente crescem os rumores de uma separação até pouco tempo improvável entre as duas entidades culturais da Bélgica, a Valônia, francófona, e a região de Flandres de influência holandesa. Ambas as regiões foram aculturadas pelos belgas como parte de uma nação única.O presidente Yves Leterme apóia a proposta de cisão, e a população tem se manifestado favorávelmente.
No complicado barril de pólvora da região mediterrânea, não bastassem os velhos problemas entre as antigas repúblicas iugolavas, a Turquia também contribui para dar à UE mais dor de cabeça. Os turcos, após intenso debate em torno da questão da secularização e do papel do país frente aos muçulmanos e à União Européia, se preocupam mais com seu lado oriental. Expulsar a minoria curda que ocupa o leste do país e planeja se utilizar desse naco da Turquia para construir seu próprio Estado parece ter se tornado prioridade. Os combates se intensificam e os curdos instabilzam a região, além do Irã, que nesta semana começou a ter problemas mais sérios com rebeldes curdos em sua fronteira. Porém, essa atitude não só atrapalha as relações do país com os EUA (pois a ofensiva turca tornaria instável o já frágil equilíbrio de forças políticas do Iraque), como também dificultaria as relações com os países que representa junto à OTAN no mediterrâneo.
Esse é outro divórcio bastante problemático. Se arrasta há mais de uma década e parece não encontrar um fim satisfatório para as partes envolvidas. Hoje se reúnem as autoridades da Sérvia e do Kosovo para, ao menos, encenarem a tentativa de estabilizar a situação iniciada nos anos 90. Já se diz que não haverá acordo. Em dezembro encerra-se o prazo para a resolução do caso.
O divórcio da Iugoslávia já rendeu em torno de quinze republiquetas que só agora, dez anos após as encarniçaadas guerras que deixaram centenas de milhares de mortos, começam a se estruturar. E caso haja mesmo a guerra que se prevê no Kosovo, a instabilidade da região poderá fazer surgir os sentimentos dos sérvios bósnios que procuram independência total em relação à Federação, e a província de Vojvodina, que há tempos tensiona as relações entre Belgrado e Budapeste.
Ainda há que se lembrar o processo movido pelo governo espanhol contra os líderes do movimento independentista basco na Espanha. Essa situação põe em risco também a paz na Europa do Oeste, que há tempos regozija-se da prosperidade da UE. A Espanha ameaça suprimir os direitos da minoria basca, começando por ''caçar'' seu sustentáculo político e limitar as autonomias da região.
São situações previstas desde o começo da década pelos analistas políticos, e que agora se confirmam num meio que tende cada vez mais ao conservadorismo e à intolerância, regredindo o processo iniciado há anos que visava admitir na Europa todas as culturas.
Divórcio em tempos de paz e guerras em nome da paz nos divórcios. É a previsão para um futuro muito próximo.

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